O Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que hoje contempla sete diferentes sistemas sustentáveis de produção, poderá ter mais um sistema adicionado à lista. Segundo Elvison Nunes, coordenador de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos no Ministério da Agricultura (Mapa), pesquisadores comprovaram que novas práticas de manejo do arroz irrigado, já utilizadas na região Sul do Brasil, reduzem a emissão dos gases de efeito estufa e podem ser um adicional do Plano.
Segundo o coordenador, está sendo formada uma Comissão Executiva Nacional que será responsável, entre outras funções, por avaliar e revisar o Plano ABC, o qual deve sofrer revisões a cada dois anos após a sua publicação. Nessas oportunidades, novos sistemas sustentáveis poderão ser adicionados. “Desde que tenham comprovação científica de que mitigam e são credores em termos de emissão de CO2 equivalente”, explica.
O Mapa, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é o responsável por analisar o processo. “Após esse procedimento, o sistema em questão será validado ou não pela Embrapa e deferido pela Comissão, que solicitará a reedição do decreto [do Plano] para inclusão do novo sistema de produção”, explica Nunes.
Novas práticas
A discussão sobre a integração do arroz irrigado ao Plano ABC teve início em novembro de 2013, na Reunião Técnica de Inserção do Arroz Irrigado no Plano ABC, em Porto Alegre (RS), com a participação de entidades de pesquisa e autoridades políticas envolvidas com o tema. Na ocasião, foram apresentadas as conclusões de pesquisas para validar a proposta.
Os pesquisadores constataram que as reduções nas emissões pelo sistema de cultivo mínimo, que é o preparo antecipado do solo, e pela irrigação intermitente, processo de supressão da água utilizada no cultivo, são equivalentes às reduções dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e Plantio Direto, já difundidos pelo ABC. “Todos apontaram dados que qualificam o sistema como redutor de emissões de metano, em comparação ao cultivo tradicional de arroz irrigado”.
Foi constatado que quando os sistemas de plantio direto e cultivo mínimo são utilizados, há uma redução média de 25% nas emissões de metano (CH4), o principal gás do efeito estufa emitido no cultivo do arroz, em comparação ao sistema de preparo convencional. O Rio Grande do Sul, através de pesquisas nas principais universidades da região, buscou mensurar as emissões de áreas cultivadas com arroz em diferentes sistemas de preparo do solo, como o convencional, o cultivo mínimo e o plantio direto.
Já a irrigação intermitente contribuiu para uma redução das emissões em aproximadamente 50%, além da economia de água. Porém, no Rio Grande do Sul, como indica o relatório, o principal sistema de manejo de irrigação para o arroz é a irrigação contínua ou inundação.
À época, foi proposto que as práticas fossem integradas às linhas de Plantio Direto e ILPF já existentes. Segundo Nunes, o Plano ABC não trata de culturas isoladas, apenas sistemas produtivos comprovadamente eficazes, do ponto de vista sustentável. “No caso da ILPF, por exemplo, o que precisamos atualmente é conhecer mais as culturas que podem compor o leque de alternativas que funcionam dentro do sistema”, afirma.
Arroz irrigado no Sul
Segundo o relatório apresentado na reunião, a lavoura do arroz no Rio Grande do Sul é hoje uma das mais eficientes na utilização dos recursos naturais e de insumos agrícolas. O cultivo mínimo na produção de arroz no estado já foi adotado em quase 800 mil hectares.
Para os pesquisadores gaúchos, as interpretações comuns de que o arroz tem alto impacto para o meio ambiente, especialmente sobre emissões de metano, prejudicam a inserção no Plano ABC. Dados da Embrapa Meio Ambiente indicam que a taxa de emissão global desse gás nos campos de arroz irrigado corresponde a 16% do total de emissão de todas as fontes.
Desde 2002, a região Sul realiza pesquisas com foco nas emissões de gases do efeito estufa em áreas de arroz irrigado, buscando identificar as melhores práticas agrícolas para a mitigação dos gases na cultura do arroz.
Fonte: ABC Observatório
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