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Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos?

Segundo o documento “Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil” (BRASIL, 2012) publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA) sobre a situação quali-quantitativa dos recursos hídricos do país, o setor de irrigação responde por 54% da vazão de retirada e 72% da vazão efetivamente consumida, constituindo-se assim como o setor de maior uso consuntivo. Entretanto, será mesmo que a irrigação e, por extensão, a agricultura irrigada (conceito mais amplo que compreende a cadeia produtiva) é uma grande consumidora de água? Ou será necessário repensar a definição da expressão “consumo de água” para o setor?

É de conhecimento dos técnicos e produtores rurais que a tecnologia de irrigação ao oferecer água na medida certa, qualidade adequada e oportunamente às culturas agrícolas, permitem que estas atinjam altas produtividades e elevado padrão de qualidade, além de tornar a produção quase contínua ao longo do ano. Acrescenta-se que, em algumas regiões do país, o uso dessa tecnologia é a única maneira de viabilizar uma produção agrícola sustentável, que garanta alimentos e renda ao produtor irrigante, sua família e empregados.

A água deve ser considerada como um insumo da atividade, tal como o adubo e os defensivos agrícolas, sendo assim seu consumo no setor da agricultura irrigada deve sempre estar associado à análise de agregação de valor do produto ao cliente final (consumidor). Além disso, mesmo se a análise recair somente sobre o consumo de recursos hídricos, percebe-se que a tachação do setor conduz a injustiças, pois somente uma parcela da água é utilizada nos processos fisiológicos da planta, sendo que a maioria retorna para o ciclo hidrológico através da evapotranspiração, infiltração e percolação profunda.


Irrigação no Brasil: Importância na Mesa do Povo Brasileiro e no Bolso do Produtor Rural. 


Conforme o Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, a área irrigada do país corresponde a aproximadamente a 4,45 milhões de hectares, com predomínio dos métodos de aspersão em geral (1,59 milhão ha), inundação (1,17 milhão ha) e aspersão – pivô central (892,9 mil ha).

No que tange à distribuição da área irrigada no país, percebe-se que à época a agricultura irrigada concentrava-se nos estados do Rio Grande do Sul (997,1 mil ha), São Paulo (786 mil ha), Minas Gerais (525,2 mil ha), Bahia (299,5 mil ha) e Goiás (269,9 mil ha).

Quanto às principais culturas irrigadas, em termos da variável área colhida, destacam-se a cana-de-açúcar (1,705 milhão ha), o arroz em casca (1,289 milhão ha), soja em grão (624,2 mil ha), milho em grão (559,0 mil ha) e feijão de cor em grão (195,2 mil ha).

Uma visão geral da distribuição da área irrigada por método de irrigação, nos estados e nas culturas (temporárias e permanentes) encontra-se nos gráficos 1, 2 e 3, respectivamente. Acrescenta-se que, nos gráficos 4 (culturas temporárias) e 5 (culturas permanentes), têm-se uma comparação da contribuição da irrigação em termos de área colhida, quantidade produzida e valor de produção em relação à tecnologia tradicional (agricultura de sequeiro).

Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos? - Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro

Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos? - Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro

Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos? - Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro

Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos? - Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro

Agricultura Irrigada: Grande Usuária de Água? Ou agregação de valor a produção e disposição abundante de alimentos? - Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro

Os dados dos gráficos, principalmente aqueles referentes à contribuição da agricultura irrigada em comparação a agricultura tradicional (sequeiro), permitem inferir a respeito da importância econômica do setor no país, além do seu posicionamento estratégico quanto ao alcance e a manutenção da segurança alimentar e energética no país.

Quanto aos itens comuns à mesa da população brasileira, notam-se algumas constatações interessantes a favor da irrigação:

71,2% do arroz (em casca) advêm da agricultura irrigada, apesar da área irrigada corresponder a 46,8% da área colhida;
 

27,5% do feijão de cor em grão são “produzidos” pela agricultura irrigada, a despeito da área irrigada corresponder a somente 13,7% da área colhida;
 

29,4% da quantidade produzida da banana são decorrentes da agricultura irrigada, apesar da área irrigada corresponder a 19,1% da área colhida;

87,8% do valor bruto da produção de todos os produtos da horticultura advêm do uso da tecnologia de irrigação. Além disso, ao desconsiderar o produto “Mudas e outras formas de propagação” do cômputo, pois este produto é o único cuja unidade de medida não é toneladas, tem-se que aproximadamente 84,4% da quantidade produzida são devidos ao uso da tecnologia de irrigação.

Essas observações, além de outras verificadas em produtos agrícolas como o café e as frutas de maneira geral, fazem da irrigação uma das principais tecnologias agrícolas responsáveis por colocar continuamente alimentos saudáveis na mesa do povo brasileiro. Além disso, ao transformar uma atividade periódica como agricultura de sequeiro em algo “quase” contínuo, a tecnologia de irrigação e drenagem tende a reduzir drasticamente a pressão inflacionária sobre os alimentos.

Acrescenta-se que, a despeito do aparente “insucesso” do uso da irrigação nas culturas da soja e da cana-de-açúcar, deve-se ressaltar que a tecnologia cumpre bem o seu papel ao garantir a produção agrícola mesmo diante dos veranicos, no caso da soja, e propiciar a disposição segura da vinhaça (água residuária rica em nutriente potássio) nos solos cultivados com cana-de-açúcar. Aliás, quanto à cultura da cana-de-açúcar, é bem provável que sua liderança como cultura irrigada se deva ao uso de equipamentos de irrigação (aspersão convencional com canhão, alas móveis ou com carretel enrolador, pivô fixo ou rebocável) na disposição deste resíduo (puro ou concentrado).

Assim sendo, não é concebível que se continue a difamar o setor da agricultura irrigada como grande usuário de água ou até mesmo perdulário de um recurso tão escasso e possível fonte de conflito neste século. Deve-se antes de tudo enfatizar sua importância para o Brasil, o mundo e na mesa de cada um de nós.




Autor: Pedro Emilio Pereira Teodoro


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