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Especialistas debatem no Conird a gestão dos recursos hídricos na irrigação

A reservação e a alocação negociada da água para a agricultura irrigada está sendo tema de destaque nas palestras e debates do XXIV Conird - Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, evento que vai até esta sexta (12), em Brasília (DF), na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Pesquisador do Instituto de Agricultura Sustentável (CSIC) em Córdoba (Espanha), Luciano Mateos falou sobre a tradição, as tendências, a modernização e os desafios da irrigação na Espanha - que, segundo ele, por muitas razões, é diferente da realidade brasileira, mas que se assemelha ao que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) está desenvolvendo. “Na Espanha predomina a irrigação coletiva, em grandes perímetros. Nós temos muita tradição e experiência, e chegamos a um ponto de funcionamento com muita eficiência e alta produtividade”, afirmou.
Mateos informou que visitou os perímetros do Vale do São Francisco e acredita ser positivo esse intercâmbio de conhecimentos, já que o instituto desenvolve metodologia para avaliar o desempenho dos perímetros visando a usá-la para aprendizagem. “E são as próprias comunidades de irrigantes que devem adquirir essas informações para melhorar o seu manejo. O conceito de comunidade de irrigantes deveria ser mais forte no Brasil, isso poderia ajudar a melhorar a gestão, a manutenção e, finalmente, a produtividade”, disse.
Durante sua palestra, ele abordou a tradição de irrigação na Espanha, utilizada pelos romanos há 2 mil anos, mas com conceito e tecnologia introduzidos pelos árabes. Segundo ele, a União Europeia possui 15 milhões de hectares de área irrigável, sendo um terço na Espanha, onde há 3,7 milhões de hectares irrigados. Mateos acrescentou ainda que 66% dos perímetros são de iniciativa pública, situação semelhante à que viu no Vale do São Francisco. Ele informou ainda que mais da metade da irrigação na Espanha é por gotejamento, e o sistema por aspersão é mais utilizado na região central do país.
Outro tema proferido pelo palestrante foi o da escassez da água e sua exploração. De acordo com ele, Brasil e Espanha estão em situações muito diferentes: enquanto no Brasil estão se desenvolvendo os recursos hídricos para a irrigação, na Espanha, que tem tradição mais antiga, os recursos hídricos já foram explorados. Não se pode buscar novos recursos. “Lá, a política é de reduzir o uso de água. No caso da irrigação, fundamentalmente, por meio da modernização dos distritos de irrigação que existem, procurando impedir nova expansão. Qualquer nova expansão significa explorar excessivamente os recursos hídricos, criando tensões ambientais, entre usuários e entre próprios agricultores. Estamos tentando corrigir erros de exploração excessiva. Chegamos ao limite. No Brasil isso ainda não aconteceu, mas é preciso ter cuidado”, alertou.

Reservação e alocação

Já Luciano Menezes Cardoso, especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), falou sobre a reservação e a alocação negociada de água. Ele explicou que se trata de uma técnica que começou em meados da década de 90 no Ceará, como forma de aprimorar a gestão de recursos hídricos. Os usuários de recursos hídricos que dependem das águas daquele reservatório, de forma orientada pelo órgão gestor de recursos hídricos, decidem o nível de alocação e o nível de risco que querem correr em relação ao uso da água daquele reservatório. “A gente sai de uma situação em que tem o comando direto do órgão gestor de recursos hídricos, pode ou não pode usar, para uma coisa mais real, de campo, onde os usuários tomam parte do processo de alocação de água”, explicou.
De acordo com ele, nas alocações negociadas de água o proprietário do reservatório cria a comissão gestora, depois a ANA faz os estudos técnicos de operação do reservatório, promove reuniões anuais com os usuários de água e em seguida os usuários decidem a alocação e o nível de risco de abastecimento, os níveis de alerta, etc. “As outorgas seguem os resultados da alocação negociada”, acrescentou.
Cardoso apresentou um caso prático do açude Luiz Vieira (BA), que possui mais ou menos 5 mil hectares irrigados. Ele contou que os usuários optaram por usar a água do reservatório acima do nível de alerta durante um período em que houve uma elevação dos preços da manga, que é a fruta produzida. Como não choveu durante alguns anos que se seguiram, isso refletiu no futuro. “Agora os usuários estão repensando e rediscutindo uma forma de explorar o reservatório de uma maneira moderada e sustentável”, acrescentou.

Sobre o Conird

O XXIV Conird - evento apoiado conjuntamente pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e pelo Ministério da Integração Nacional, entre outras entidades -, conta com uma vasta programação composta de oficinas, conferências, seminários, sessões pôsteres, estandes e dias de campo.
O principal objetivo dos Congressos Nacionais de Irrigação e Drenagem é o de fortalecer esse fórum em favor do desenvolvimento sustentável dos agronegócios calcados na agricultura irrigada, constituído pela Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID), uma das promotoras do evento. O evento reúne produtores, profissionais, especialistas, pesquisadores, estudantes e outros representantes dos setores ligados à área, de todas as partes do Brasil e do exterior. 


Fonte: Codevasf

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