Petrolina, no semiárido pernambucano, ganhará em breve o seu primeiro Mercado dos Produtores Orgânicos do Vale. A iniciativa é uma parceria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) com a prefeitura municipal, o Ministério Público estadual, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), a Embrapa e a Associação dos Produtores Orgânicos do Vale do São Francisco, formalizada neste ano.
A prefeitura doará a área para a construção do mercado, que ficará nas proximidades do parque municipal Josefa Coelho, na área central do município. Na primeira etapa, um investimento de R$ 250 mil do Orçamento Geral da União destinado por meio de emenda parlamentar à Codevasf, será construída parte da estrutura física do mercado, na qual já será possível a comercialização dos produtos. A licitação desta primeira etapa está perto de ser iniciada. Todo o projeto incluirá um total de quatro etapas, com investimento previsto de R$ 1 milhão.
Com a ajuda da Codevasf e dos parceiros do projeto, a associação conseguiu criar em 2012 uma feirinha de produtos orgânicos na feira da Areia Branca, a principal da cidade. O espaço comercializa, todos os domingos, das 5h às 8h, frutas, legumes e hortaliças em pequena escala.
Com a implantação do Mercado dos Produtores Orgânicos do Vale, que será o primeiro do Nordeste e o segundo no país, a tendência será de crescimento no número de produtos comercializados e de consumidores interessados na produção orgânica da região. Segundo o chefe da Unidade de Gestão de Empreendimentos da Gerência de Irrigação da Codevasf em Petrolina, Osnan Ferreira, o primeiro mercado orgânico nacional está localizado em Curitiba, no Paraná, que é também o estado que conta com o maior número de produtores orgânicos do Brasil.
“São quase dois mil produtores no Paraná, estado pioneiro em adotar esta nova forma de produção sem utilizar produtos químicos. Atualmente, existem cerca de 60 produtores aqui na área dos perímetros irrigados Nilo Coelho, Bebedouro e Maria Tereza, mas a meta é alcançar pelo menos 200, inicialmente. Esse processo começou em 2005, quando foram iniciados os primeiros estudos para a viabilização do novo modelo de produção irrigada da região”, explica Osnan.
Para começar a produção orgânica nos perímetros irrigados em Petrolina, a Codevasf contratou assistência técnica especializada. Segundo o coordenador geral do trabalho, João Francisco Germino, o primeiro passo foi buscar as áreas para iniciar o processo de transformação.
“O primeiro cadastro foi feito em 2005, e em 2006 iniciamos os contatos com os produtores. É um trabalho de formiguinha. Hoje já estamos apresentando à população a feirinha orgânica na Areia Branca, que se consolidará com a construção do Mercado dos Produtores”, diz o engenheiro agrônomo.
O projeto mostra aos produtores que, apesar de demandar um pouco mais de trabalho, a produção orgânica tem inúmeras vantagens, como nos quesitos ambiental e da saúde dos consumidores.
“Temos como desafio integrar mais produtores no novo modelo. Contamos com outros parceiros – como o Instituto Federal Sertão Pernambucano, a Universidade do Estado da Bahia, a Univasf e a Embrapa –, para a identificação de novas áreas, descobrir o grau de agressões ao solo e consolidar toda essa ação usando a tecnologia para a realidade da produção orgânica”, observa Germino.
O engenheiro agrônomo Ismar Matos é responsável pelo contato direto com os produtores. Segundo ele, a meta é propor a mudança e buscar novos produtores para o projeto, apresentando as vantagens de se produzir alimentos sem química nenhuma. Uma delas, conforme Ismar, é a conquista de um selo de garantia. A certificação é feita por uma empresa especializada credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“Hoje temos certificados 17 produtores, mas ainda este ano outros 53 deverão receber o selo que garante mais confiabilidade ao consumidor. É um modelo de produção mais demorado devido ao ambiente estar desgastado, mas o tempo de produção já não é mais entrave para o produtor aderir à produção orgânica. O próprio mercado tem oferecido produtos para facilitar o trabalho de quem resolve produzir sem química”, atesta Ismar.
Demanda tem aumentado
Um dos mais antigos a participar do projeto é o produtor do perímetro irrigado Senador Nilo Coelho, em Petrolina, Jorge Mariano, um entusiasta do novo modelo produtivo. Ele elogia e enaltece a presença da Codevasf nesse processo.
“São 22 anos produzindo, sendo 15 com fruticultura. Se não fosse a Codevasf para nos dar esse suporte, esse ponta pé inicial, não teríamos como caminhar. Hoje a procura na feira de orgânicos é grande e a nossa produção ainda é pequena para atender à demanda, mas com o mercado teremos mais espaço, e a comercialização atenderá ao gosto do produtor e do consumidor”, assinala.
O produtor, que tem uma área irrigada no núcleo 4 do Nilo Coelho, destaca as vantagens de ter trocado a produção convencional pela orgânica. Para ele, esta é uma ação de grande importância, tanto para quem produz como para quem consome.
“Hoje estamos na feira da Areia Branca e não podemos praticar preço diferenciado para não criar problemas com os outros feirantes que comercializam a produção convencional. Uma área maior nos dará autonomia para fazer o nosso modelo de venda, tendo condições ainda de levar mais produtos para atender à população e conquistar mais adeptos ao novo modelo”, ressalta o produtor.
Jorge Mariano revela ainda que percebeu uma procura maior por verduras e legumes na feira de orgânicos e que por conta disso vai destinar uma parte de sua área para produzir esses alimentos e, assim, atender a essa demanda.
“Sempre vejo gente procurando por beterraba, cenoura e verduras em nosso espaço na Areia Branca, mas como estamos num local pequeno, o produto é logo vendido e acaba cedo, por isso resolvi escolher uma área no meu lote e iniciar essa produção para que mais pessoas possam levar para casa alimentos produzidos sem nenhuma química”, diz.
Para a presidente da Associação dos Produtores Orgânicos do Vale do São Francisco, Ozaneide Gomes dos Santos, o desafio agora é realmente a questão do espaço. “Estamos com apenas oito barracas e 16 produtores instalados na Feira Orgânica na Areia Branca. Tem gente que chega 8h e não encontra mais nada e sabemos que com um mercado formalizado atenderemos aos consumidores e tornaremos todo esse trabalho mais profissional”, diz a dirigente.
O grupo se organiza também para se cadastrar nas chamadas públicas de programas governamentais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Tudo é muito novo para a gente, mas somos conscientes que só organizados é que consolidaremos esse mercado de orgânicos aqui na nossa região”, conclui a produtora que possui uma horta orgânica no Assentamento Mandacaru, zona rural de Petrolina.
Hoje a Associação dos Produtores Orgânicos do Vale do São Francisco possui 31 associados, mas com a formalização a presidente espera integrar 50 integrantes ainda neste ano.
Fonte: Codevasf
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