Confira a publicação online da Embrapa Clima Temperado sobre os fundamentos e práticas da fruticultura.
Por: Jair Costa Nachtigal, José Carlos Fachinello & Elio Kersten
As regiões tradicionais produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação como um insumo importante para garantir produtividade e qualidade das frutas. Isto acontece na Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, Itália, Egito, Israel, região nordeste do Brasil, onde se produz um grande volume de frutas tropicais e temperadas sob irrigação.
No Sul e Sudeste do Brasil, normalmente ocorrem precipitações em torno de 1.500mm, porém nem sempre há uma boa distribuição das chuvas durante o ano. É comum acontecerem estiagens durante os meses de dezembro e janeiro e no período de inverno, respectivamente. Estes períodos com falta de umidade do solo, ocasionam perdas nas colheitas, pois provocam rachaduras nas frutas e diminuição do tamanho das frutas, além de diminuir a absorção de nutrientes do solo.
Os sistemas de irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes, com economia hídrica e permitindo que sejam aplicados os fertilizantes através da água de irrigação, a chamada fertirrigação.
A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a água de irrigação. Esta prática se converteu em rotina e é um componente essencial dos modernos sistemas de irrigação. Neste sistema são aplicados os macro e micronutrientes para as plantas frutíferas, para isso é necessário que os mesmos sejam solúveis em água.
O consumo de água depende de fatores como o solo, a cultura, a umidade do ar, entre outros. A umidade do solo é determinada por tensiômetros. Por exemplo, quando os tensiômetros chegam a uma tensão de 15 a 20 centibares, em solos leves, deve-se renovar a irrigação, pois a maior parte da água disponível no solo já foi aproveitada.
10m de coluna de água = 1 atmosfera = 1 bar
10cm de coluna de água = 1 atmosfera 100-1= 1 centibar.
Na cultura do pessegueiro, os períodos críticos correspondem: a) diferenciação das gemas, a qual ocorre após a colheita; e b) no período compreendido entre a quebra da dormência e o fim da floração. A retirada de água do solo pela planta aumenta à medida que se desenvolvem os ramos e se amplia a área foliar. A multiplicação de células nessa fase (35 a 40 dias após a floração) é muito grande, diminuindo após o fim da polinização. Como o número de células irá determinar o tamanho final das frutas, a falta de água nesse período reduz o número de células, diminuindo o tamanho da fruta e a produção. Após a divisão celular, inicia-se a fase de aumento de volume da célula. Nesse período, a etapa mais crítica ocorre durante a aceleração máxima do crescimento da fruta, duas a três semanas antes da colheita. Pode-se manejar a água ao longo desse estágio, antes da etapa crítica, reduzindo o teor de umidade do solo na fase que se inicia com a fruta no tamanho de uma azeitona até o período de seu crescimento rápido, visando-se à economia de água e melhoria da qualidade da fruta, sem comprometimento da produtividade.
Sistemas de Irrigação em Pomares
A escolha do sistema deve considerar o tipo de solo, clima, disponibilidade e qualidade da água, sistema de cultivo, manejo do solo e custo da energia.
Irrigação por inundação
Este sistema requer um bom nivelamento do terreno, normalmente declives inferiores a 1% e um grande fluxo de água, na ordem de 1,6 L seg. ha-1. É pouco utilizado nas condições do Brasil, pois normalmente os pomares são implantados em terrenos com declividade superiores. É um sistema que exige grandes volumes de água e, mesmo em solos nivelados, dificilmente se consegue uma boa distribuição da água no solo (70%).
Irrigação em sulcos
Como no sistema anterior, a irrigação em sulcos requer uma nivelação do terreno, normalmente é recomendado para declives até 2%. Em declives superiores, pode causar sérios problemas de erosão.
O fluxo de inundação nos sulcos é da ordem de 1,2 a 1,5 L seg. ha-1 e a eficiência do sistema é da ordem de 40 a 70%. A principal vantagem é o baixo custo de instalação em solos nivelados.
Irrigação por aspersão
Este sistema pode ser utilizado em terrenos onde os custos para nivelamentos são elevados, em solos com topografia irregular, para controle de geadas e permite uma boa uniformidade de distribuição da água.
A irrigação por aspersão pode ser de dois tipos: sobrecopa e sub-copa, quando feita por cima ou por baixo da copa das plantas. A irrigação sobrecopa apresenta como principais desvantagens o molhamento das folhas, o que aumenta a incidência de doenças, e maiores perdas por evapotranspiração e pela ação dos ventos. Já a aspersão sub-copa apresenta como desvantagem principal a interferência do tronco e copa das plantas, o que dificulta o molhamento uniforme do terreno.
Na aspersão, as vazões e pressões são, normalmente, de média a alta, exigindo motobombas de maior potência e demandando maior consumo de energia em relação ao gotejamento e à microaspersão. Por outro lado, os aspersores não necessitam de equipamentos de filtragem e apresentam uma menor necessidade de manutenção.
Irrigação por aspersão em videira.
Irrigação por microaspersão
A irrigação por microaspersão é bastante usada em videiras e outras frutíferas, diferindo da aspersão, basicamente, pela vazão menor dos aspersores. Este sistema requer filtros, sendo comum, porém, empregar-se somente filtros de discos (ou tela).
Nesses sistemas podem ocorrer problemas com a entrada de insetos e aranhas nos microaspersores, causando entupimentos e, com isso, prejudicando a aplicação de água. Por isso deve-se optar, sempre que possível, por microaspersores com dispositivos anti-insetos.
Na microaspersão os emissores são, normalmente, posicionados individualmente ou a cada duas plantas, não havendo problemas de interferência dos troncos, como na aspersão sub-copa.
Irrigação por micraspersão em videira.
Irrigação por gotejamento
Trata-se de um sistema moderno de irrigação e consiste, basicamente, na aplicação frequente de água a um volume de solo limitado e com um consumo inferior a qualquer outro sistema. A água é aplicada em pontos localizados na superfície do terreno, sob a copa das plantas. O solo é mantido próximo à capacidade de campo (CC), o que proporciona condições mais adequadas ao desenvolvimento e à produção.
O gotejamento é uma instalação permanente, isto é, não pode ser deslocada de uma área para outra e os gotejadores são distribuídos sob a planta ou enterrados no solo. Este sistema utiliza pouca mão-de-obra e apresenta uma eficiência de 95% em zonas tropicais, porém requer o uso de água de boa qualidade e de filtros eficientes, normalmente filtros de areia.
Os gotejadores são peças especiais que dissipam a pressão da água de irrigação, a fim de manter a vazão homogênea ao longo da linha de gotejamento. Tal dissipação de energia se dá pela passagem da água por delgadas secções. Por essa razão ela deve ser limpa e livre de impurezas em suspensão.
Este sistema é muito utilizado na fruticultura moderna e, normalmente, associado à fertirrigação.
Irrigação por gotejamento em pereira.
Fonte: ESCOBAR (1988)
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