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PR: O potencial do leite na agricultura familiar


Na propriedade El Shaddai, no bairro Corredeira, do produtor Matias Binello Gassner, 42 anos, em Tomazina, o inverno não trouxe grandes prejuízos ao pasto, garantindo alimento e produtividade para as suas 20 vacas leiteiras das raças jersey e jersey-holanda, obtendo em média 12 litros/vaca. Há quase um ano ele conta com um sistema de irrigação em um dos nove hectares da sua propriedade que tornou possível driblar o inverno até agora. Além de plantar a variedade de grama Tifton 85, mais resistente, ele seguiu à risca as recomendações técnicas de fazer a sobressemeadura de aveia e azevém no pasto nos períodos mais frios, além de complementar com ração balanceada (incluindo silagem de milho e capim napier). 
Animado com os os bons resultados, ele chegou a erradicar dez mil pés de café para se dedicar exclusivamente à pecuária leiteira e já prevê a compra de mais dez vacas para conseguir produzir 500 litros/dia. Até mesmo o antigo terreiro de café tem um novo destino: servirá para a nova sala de ordenha feita de alvenaria, que deverá ficar pronta até o final do ano, orçada em R$ 10 mil. Há dois anos ele possui um resfriador próprio de 1.200 litro. "Os resultados estão sendo excelentes e acho que vale a pena investir no setor. Hoje todo sitiante tem que pensar como um microempresário e procurar se profissionalizar cada vez mais", afirma o produtor, exemplo típico de agricultura familiar em que, além dele, colaboram com o manejo da propriedade a esposa Jane e as filhas Júlia e Juliana, de 13 e 9 anos respectivamente, nas horas vagas, após voltarem da escola.
Ele é um dos quase 500 pequenos produtores selecionados de 24 municípios da região que estão se beneficiando de uma série de incentivos - conforme as necessidades priorizadas -, por meio do projeto "Apoio à Pecuária Leiteira na Agricultura Familiar no Norte Pioneiro" resultante de convênio entre a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. O projeto está orçado em R$ 5 milhões. Parte dos recursos são provenientes de emendas parlamentares do ex-deputado federal Abelardo Lupion, com contrapartida do Governo do Paraná. Segundo dados da Seab, o Estado envolve mais de 115 mil produtores de leite, que produziram mais de 4,6 bilhões de litros de leite no último ano – a produção da região do Norte Pioneiro é atualmente de 5% desse total, envolvendo 5 mil produtores. O Paraná é o terceiro produtor nacional de leite, seguido do Rio Grande do Sul (2º) e Minas Gerais (1º).

Passo a passo

O projeto, iniciado há dois anos, tem contemplado capacitação de técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e dos produtores com pesquisadores especialistas na área, fornecimento de insumos (adubos e sementes, entre outros), irrigação e, mais recentemente, o repasse de equipamentos, como forma de apoiar grupos de pequenos produtores: 22 carretas basculantes, 15 tratores, 25 resfriadores de leite com capacidade de 1.000 litros cada um, distribuidor de esterco, nove grades aradoras, 20 ensiladeiras e 20 distribuidores de fertilizantes. "O Norte Pioneiro não tem tradição de ser uma referência na produção leiteira, mas há potencial para isso. O projeto visa aumentar a qualidade e produtividade do leite a um custo menor. A irrigação é um dos recursos que pode fazer a diferença nesse sentido, já que permite que haja alimento no inverno sem tanto investimento com a complementação alimentar", destaca Sidney Barros Monteiro, coordenador regional de projetos da Emater de Santo Antônio da Platina.
"Há dois anos, a produção diária da nossa região era de 360 mil litros/dia, mas agora já estamos chegando a 500 mil/dia. A nossa meta é chegar em dois anos a 1 milhão de litros/dia", acrescenta. Além de melhorar a produtividade e a qualidade do leite norte-paranaense, uma próxima etapa do projeto deve envolver a aproximação com as indústrias de beneficiamento do leite. "É preciso uma maior integração entre o setor, até para que possamos firmar parcerias para um acompanhamento técnico constante desse processo e a valorização do pequenos produtores que fazem esse tipo de investimento", pontua. "Com mais qualidade de vida, o produtor tende a querer permanecer na área rural e já estamos vendo filhos que antes estavam morando na cidade retornarem para trabalhar na área rural da família", conclui.

Investindo na irrigação

Apesar de não ser tradição na nossa região, irrigar as áreas de pastagem pode ser uma alternativa em prol do custo/benefício da produção de leite. No caso do produtor Matias Gassner, o projeto custeou os R$ 7 mil que teria gasto para viabilizar a irrigação em um hectare da sua propriedade. Seguindo as orientações do médico veterinário Henio Augusto Lemes Queiroz, que é lotado na Prefeitura, mas conveniado com a Emater, a área irrigada já foi dividida em 12 piquetes de 18 X 80 metros (ao todo, serão 36) para permitir o rodízio da pastagem. Em cada piquete, há seis aspersores de água. "Antes, eu fazia as coisas por conta, do jeito que eu achava que estava certo, mas com a orientação adequada estou vendo na prática melhores resultados", garante. "O nosso objetivo é refinar o manejo da irrigação, com mais dados sobre quando, como e quanto fazer. Em breve, receberemos um aparelho (irrigâmetro) que avalia a quantidade de água evaporada e infiltrada no solo. A nossa ideia é que essa propriedade possa servir de modelo de referência e incentivo aos outros produtores", pontua Queiroz.
O projeto beneficia 24 municípios: Abatiá, Barra do Jacaré, Cambará, Carlópolis, Conselheiro Mayrink, Curiúva, Figueira, Guapirama, Ibaiti, Jaboti, Jacarezinho, Japira, Joaquim Távora, Jundiaí do Sul, Pinhalão, Quatiguá, Ribeirão Claro, Salto do Itararé, Santana do Itararé, Santo Antônio da Platina, São José da Boa Vista, Siqueira Campos, Tomazina e Wenceslau Braz.


Fonte: Cenário MT

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