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Agricultura precisa discutir uso racional da água o quanto antes, defende pesquisador

Para chefe geral da Embrapa Soja, não dá para pensar em produção eficiente, manejo de pragas e doenças antes de falar sobre soluções para o estresse hídrico.

Pragas, doenças, plantas daninhas, perda de eficiência da tecnologia na lavoura. Embora tudo isso represente perigo e requeira atenção constante no campo e nos departamentos de pesquisa, para o chefe geral da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias, o maior problema a ser enfrentado pela agricultura daqui para frente é outro: o uso da água. Encontrar soluções para produzir com eficiência em um contexto de clima mais quente e escassez hídrica.
“Vai ser estratégico para o Brasil se quiser continuar na liderança do agronegócio trabalhar mais firme e vejo que a gente não está se preparando muito não só na agricultura, mas em outras áreas também”, avaliou Farias durante o 7º Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Florianópolis (SC). “É um único fator que compromete todo o sistema. Não posso falar de produtividade, resistência, manejo se não tiver meios de ter água para produzir e quanto antes começar essa discussão é melhor”, acrescentou.
Para ele, a tecnologia já desenvolveu base genética suficiente para criar cultivares de soja adaptadas a diferentes condições térmicas. No entanto, apesar de considerar as pesquisas relacionadas à tolerância a seca bem avançadas, é mais difícil se chegar a uma solução porque essa característica é mais difícil de se identificar. “Quando eu falo de uma planta resistente a herbicida, eu aplico o herbicida. Se a planta não morrer, é resistente. E a seca? Como faço a seleção? Por isso os resultados custam mais a chegar.”
Enquanto não se chega a uma conclusão sobre a parte genética, Farias defende que é preciso adotar outras medidas que possam amenizar o efeito negativo da escassez hídrica, como o uso racional da irrigação. Além da própria aplicação do sistema de acordo com a necessidade da planta, ele sugere alternativas como reuso da água de outros sistemas produtivos na lavoura. “Uma água mais suja, teria planta para devolver essa água para a atmosfera de maneira limpinha na forma de vapor”, explicou.
Outra alternativa seria o próprio manejo do solo, com o uso de plantas que possam fincar raízes mais longas. O chefe geral da Embrapa Soja lembra que os cultivos estão cada vez mais precoces. A soja, por exemplo, que antes levava em torno de 150 dias para colher, hoje sai da lavoura em até 90 dias. Essa precocidade de ciclo impede a formação de raízes profundas no solo, que poderiam melhorar a disponibilidade de água.
“Um bom manejo do solo, o uso de sistemas que favorecessem o armazenamento de água para ajudar a planta nesse período mais crítico. Mesmo que a gente tenha materiais genéticos tolerantes à seca, essa prática fica porque o material é tolerante, não vai viver sem água. Ele vai precisar de água por mais tolerante que seja”, disse Farias.

Manejo sistêmico

Sobre a resistência que de pragas, doenças e plantas daninhas vem demonstrando em relação às tecnologias aplicadas nas lavouras, José Renato Bouças Farias disse que o surgimento de cultivares transgênicas, entre outras soluções, vai continuar. Porém o mais importante é pensar no que ele chama de manejo fitossanitário sistêmico, que envolva uma preocupação generalizada em relação aos problemas que podem atingir às lavouras.
“Não vai ser fácil gerenciar todo esse arsenal no futuro. Pode ser preciso até sistemas de manejo até com restrições de cultivo para determinadas espécies. Não apenas rotação de culturas, mas também de princípio ativo. Se todos os produtos têm o mesmo gene, como vai fazer o manejo do solo de uma cultura para outra?”, questiona.
No entanto, diz o chefe geral da Embrapa Soja, independente de qualquer norma que possa ser adotada, o fator principal para o sucesso é a maior conscientização do setor produtivo sobre a importância das boas práticas, algo que, segundo ele, já vem ocorrendo. “Não está tudo perdido, dá pra remediar. A helicoverpa ajudou a resgatar os princípios do manejo integrado de pragas, de ter cautela na hora de aplicar (agroquímicos). É uma conscientização que está ocorrendo em todo o setor produtivo e todo mundo começa a ter consciência dos problemas”, afirmou.


Fonte: Globo Rural

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