Em meio à seca e destruição, há também exemplos de fartura. Produtores de leite têm hoje o bem mais precioso da produção rural: a água.
A seca que atingiu várias partes do país no último ano é uma realidade que os nordestinos conhecem de longa data e aprendem a conviver.
Fazendas de leite do Ceará que investiram em tecnologia, hoje conseguem ter o bem mais precioso para a produção rural: a água. O resultado é um gado sadio e produtivo o ano inteiro, como mostra a repórter Cristina Vieira.
Paisagem seca da caatinga, típica da época de seca no sertão. A primeira parada é no município de Umirim. O verde desapareceu das árvores e do capim e quase não tem mais água nos rios e açudes.
A média anual de chuvas nessa região é em torno de 800 milímetros. Em 2014, foram só 600 e, ainda assim, com chuvas mal distribuídas, concentradas em poucos meses. Nas fazendas, o pasto vira palha e muitos animais não resistem à falta de água, mas em meio a essa realidade há também exemplos de fartura.
No contraste com a paisagem seca do sertão, sem pasto, o capim verdinho alimenta as vacas leiteiras. Isso só é possível porque a água da chuva foi guardada para fazer irrigação. Pode-se dizer que é uma produção de vacas irrigadas.
Durante os meses de estiagem, uma vez ao dia, o pivô distribui entre sete e oito milímetros de água no campo, como mostra o diretor de pecuária, Rafael Carneiro, neto do dono da fazenda.
A área começou a ser irrigada há três anos e deu tão certo que o sistema de criação mudou. As vacas de leite saíram do confinamento para o chamado pastejo rotacionado. A área é dividida em 20 piquetes, o gado fica em cada um deles por 24 horas e vai trocando, assim, todo dia as vacas se alimentam em um piquete diferente e só voltam para o primeiro 19 dias depois, tempo suficiente para o pasto se recuperar e ficar bonito e nutritivo.
Em 22 hectares irrigados com capim mombaça, tem comida para mais de 300 animais.
“Nossa produtividade aumentou 20% no primeiro mês e os custos reduziram em 50%. Era uma atividade que empatava ou dava pouco ganho, mas se tornou viável”, diz Rafael.
O que está por trás de tudo isso são as barragens e elas só foram construídas depois de um estudo da capacidade de todo o terreno da fazenda para armazenar água. Em 1,2 mil hectares são três grandes barragens e outros 24 reservatórios menores.
A fazenda tem no total 1,8 mil animais. As 780 vacas em produção rendem 14,5 mil litros de leite por dia: o que dá mais de 18 litros por animal.
O veterinário Péricles Montezuma acompanha todas as etapas da produção. As vacas sadias no campo são reflexos de práticas que começam em seguida após o parto. Para controle de nutrição e sanidade, bezerrinhas que acabaram de nascer logo são separadas da mãe.
O primeiro leite da mãe, o colostro, passa pelo teste que avalia a quantidade de anticorpos, é o que vai fornecer as defesas para os recém-nascidos.
Dois dias depois do nascimento, os animais vão para o bezerreiro, onde a água também vem das barragens. Mas o que eles mais querem nesse momento é o leite.
Neste ambiente, as bezerras ficam presas por uma corrente ligada a um cabo de aço, em um sistema de sombreamento, que foi construído especialmente para que toda a área receba sol em alguma parte do dia.
As bezerrinhas ficam neste espaço durante dois meses e mais 10 dias sem leite, só com ração, em uma espécie de adaptação para a próxima fase, a de convivência com outros animais. Aí elas são soltas, mas ainda em pequenos grupos, e passam por várias categorias até chegar à idade de reprodução. Tantos cuidados são necessários para preparar um gado produtivo e resistente.
Outro investimento é no cruzamento genético. A fazenda trabalha com inseminação artificial há 11 anos.
Esses bons resultados não são méritos apenas de grandes propriedades. Uma fazenda de 210 hectares, em Paracuru, trabalhava só com a plantação de coco, mas raças ao empenho dos donos para buscar conhecimento e tecnologia, hoje tem produção de leite o ano todo, faça chuva ou faça sol.
Fonte: Globo Rural
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