Os primeiros resultados do Projeto Piloto de Vila Ouro, implantado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Uibaí, semiárido baiano, já indicam que a produção agrícola familiar com uso de sistema simplificado de irrigação em modelo agrovila pode ser uma excelente alternativa para assentamentos e comunidades rurais em áreas tradicionalmente atingidas por estiagens prolongadas. Em menos de dois anos da implantação do projeto, os resultados são animadores. “A comunidade realizou o plantio das primeiras sementes e, o que foi colhido nessa primeira etapa, já foi suficiente para nosso consumo e até para vender. Isso deixa a comunidade muito feliz, pois percebe-se que o projeto vai dar certo”, comemora a presidente da Associação de Ilda Cardoso, Rita Maria da Silva.
O valor investido na implantação do sistema foi R$ 31 mil. A área irrigada é de 6 mil m² e está produzindo cenoura, beterraba, quiabo, alface, coentro, cebolinha, feijão-de-corda, milho, abóbora, melancia, maxixe, entre outros. Os custos de manutenção (como adubação e aquisição de sementes) são assumidos pela própria comunidade.
“Nesse sentido, é possível perceber que os objetivos do Projeto Piloto de Vila Ouro vão sendo alcançados, e que a autoestima dos agricultores e dos assentados vai aumentando, abrindo novos horizontes e novas perspectivas de melhoria da qualidade de vida”, completa a psicopedagoga Karen Chagas, que integrou a equipe contratada para realizar o cadastramento e a mobilização social das famílias.
A instalação foi realizada no assentamento Vila Ouro, localizado no município de Uibaí (BA), a 500 km de Salvador. O empreendimento beneficia 12 famílias do assentamento, as quais integram a Associação de Agricultores Sem Terra do Bairro Ilda Cardoso. Essas famílias possuem renda per capita mensal inferior a R$ 77 e são atualmente beneficiárias do Plano Brasil Sem Miséria.
Cultivo orgânico
Luciana Gonçalves Meneses mora com o marido e o filho no assentamento e, como beneficiária do projeto, só vê vantagens. “A expectativa de sucesso é muito grande. Com o projeto, a gente tem como sustentar a casa e ainda dá para vender. Além disso é tudo orgânico, sem veneno, muito mais saudável”, afirmou.
Segundo a chefe da Unidade de Arranjos Produtivos da Codevasf, Rosangela Matos, o projeto é uma ação que a Codevasf pretende replicar em outras comunidades e servirá de referência para implantação de projetos similares. “O apoio da Codevasf às irrigações de pequeno porte está promovendo a melhoria da qualidade da alimentação e gerando mais uma alternativa de renda para o agricultor familiar. Ressalto que o apoio de parceiros do setor público que atuam no município foi importante na sua implantação”, informou.
A infraestrutura montada para o funcionamento pleno do sistema simplificado de irrigação é composta por um sistema de bombeamento por energia elétrica, cerca para proteção do poço tubular e da bomba, aproveitamento de poço tubular existente, sistema adutor, sistema de reservatórios elevados – com capacidade para 20 mil litros (duas caixas d`água de 10 mil litros) – e 12 kits de irrigação com capacidade para irrigar 500 m² via sistema de gotejamento.
Também foram disponibilizados equipamentos, ferramentas e insumos como enxadas, enxadões, carrinhos de mão, rastelos, pás, enxadetes, pulverizadores costais, além de 2 mil kg de calcário; 400 kg de adubo granulado e 150 kg de ureia agrícola. As sementes disponibilizadas para o plantio foram milho, maxixe, cebola, quiabo, cenoura, cebolinha, alface, beterraba, coentro, pimentão, abóbora, tomate, couve e melancia.
A implantação dos sistemas simplificados de irrigação é uma ação conjunta dos programas Água Para Todos – Segunda Água, e Desenvolvimento Regional, Territorial Sustentável e Economia Solidária – Inclusão Produtiva, ambos vinculados ao Plano Brasil Sem Miséria. Os recursos são provenientes de destaques orçamentários da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional (SDR/MI).
O trabalho da Codevasf no assentamento Vila Ouro conta com o apoio da Secretaria Municipal de Agricultura de Uibaí, que realizou as análises prévias do solo e comprometeu-se a adquirir a produção da agrovila por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), ambos mantidos pelo governo federal para abastecimento de projetos sociais e estímulo aos agricultores familiares. A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) foi a responsável pela capacitação e assistência técnica aos produtores.
Experiência com hortaliças
O Assentamento Ilda Cardoso foi criado a partir de ações de regularização fundiária e recebeu ao longo dos anos algumas políticas públicas geridas pelo governo do Estado da Bahia e pelo governo federal. As famílias do assentamento possuem energia elétrica suprida por meio do programa Luz para Todos; e habitações e água para consumo humano a partir de políticas públicas da Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA), autarquia da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri).
As famílias estão organizadas na Associação dos Pequenos Agricultores do Assentamento Ilda Cardoso. Elas têm experiência com hortaliças irrigadas, que cultivam em pequenas áreas com água captada de um poço tubular construído no assentamento pela CDA.
Nessas áreas, além da plantação de hortaliças e grãos, alguns moradores também criam pequenos animais, como porcos, galinhas, cabras e ovelhas. O trabalho no assentamento tem sido organizado em áreas individuais e coletivas, de acordo com a dinâmica social dos assentados. Para a implantação do sistema simplificado de irrigação foi disponibilizada uma área coletiva de 1 hectare, que foi distribuída em 12 parcelas de aproximadamente 834 m².
Economia de água e energia
O sistema simplificado de irrigação consiste num conjunto de obras e serviços que proporciona a disponibilização de fonte de água para irrigação (poço, rio, lago), implantação de sistema de bombeamento, adução, reservamento elevado e distribuição de água e instalação de kits de irrigação por gotejamento em áreas aptas. A ação ainda contempla o preparo e a adubação corretiva do solo para receber o cultivo.
Segundo Rosangela Matos, chefe da Unidade de Arranjos Produtivos da Codevasf, o método é vantajoso porque permite que um mesmo sistema atenda a várias famílias ao mesmo tempo. “A operacionalização do sistema e o manejo da irrigação são relativamente simples e de fácil aprendizado, minimiza os impactos da seca e proporciona melhoria na qualidade e quantidade de alimento ofertado às famílias beneficiárias”, explica. De acordo com ela, o excedente da produção pode ser comercializado e servir como fonte de renda. Além disso, a irrigação por gotejamento proporciona economia de água, se comparada a outros sistemas de irrigação, e como o reservamento da água é apoiado em base elevada, permite a irrigação por gravidade, economizando energia.
Fonte: Codevasf
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