O projeto que apresenta os efeitos ambientais, econômicos e sociais obtidos com a conversão do sistema de irrigação do Perímetro Mandacaru, implantado em Juazeiro (BA) pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), é um dos três finalistas ao Prêmio ANA 2014, promovido pela Agência Nacional de Águas (ANA). De autoria dos técnicos da empresa Frederico Calazans, Juan Ramon Fleischmann e Rodrigo Franco Vieira, o projeto visa proporcionar o uso mais eficiente da água e contribuir para a revitalização da bacia hidrográfica do rio São Francisco, apresentando como benefícios o fim do desperdício de água, o melhor desenvolvimento da planta e a economia de energia elétrica. A empresa concorre na categoria “Governo”.
A metodologia idealizada pelos técnicos da Codevasf constitui-se de pequeno reservatório escavado em cada lote, de onde é pressurizada a água para os emissores (microaspersores, gotejadores e aspersores) em menor quantidade – a depender da cultura.
Entre os benefícios apontados e quantificados estão o fim do desperdício de água, maior eficácia na aplicação dos produtos químicos, melhor desenvolvimento da planta, economia de energia elétrica, redução dos custos de produção, aumento significativo dos índices de produtividade e melhoria da renda do produtor.
“Como técnico da Codevasf desde 2001, não posso deixar de reconhecer que o projeto de conversão do Mandacaru é hoje um paradigma a ser seguido pela política pública nos projetos públicos de irrigação. O adequado manejo de água nas áreas de produção agrícola ainda é limitado. O caso do rio São Francisco é revelador: o rio está definhando, é preciso que os programas de revitalização ocorram também na agricultura irrigada, maior consumidor usuário de água do rio”, afirma o engenheiro agrônomo Frederico Calazans, que também responde pela Secretaria Executiva da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação da Codevasf.
Inovação tecnológica
As ações começaram em 2006 no lote de número 38, cujo projeto de conversão apontou resultados interessantes, motivando ampliação dos estudos e criação da metodologia.
Basicamente, os perímetros irrigados funcionam com uma estrutura hídrica composta por sistemas de captação e distribuição de água e drenos de escoamento da água não utilizada ou de chuva. No sistema mais tradicional de irrigação, a água é bombeada do rio e levada, por gravidade, através de canais abertos até os lotes, onde, por meio de valas ou regadeiras é jogada na terra através do uso de sifão.
Neste sistema tradicional existem problemas, tais como desperdício de água, seja por evaporação e vazamentos, seja por excesso do líquido; e erosão do solo e contaminação do meio ambiente, pois a água carreia os produtos químicos utilizados na produção. Atualmente ainda existem mais de oito mil hectares irrigados em sistema de irrigação por sulcos. Esses foram alguns dos fatores que motivaram os técnicos da Codevasf a buscar uma alternativa sustentável para a implementação da conversão do sistema de irrigação. Na realidade, os técnicos inventaram uma metodologia visando a conversão, utilizando-se das tecnologias disponíveis no mercado.
Segundo os estudos realizados até hoje, houve uma economia de aproximadamente 50% do total de água utilizada na irrigação em todo o perímetro, já que o bombeamento anual de água foi reduzido em 21%, e houve um aumento da área plantada em torno de 23%, entre 2011 e 2013. Em 2014, a área média ocupada está entre 80% e 90%, algo impensável no sistema por sulcos, sendo que este valor nunca será de 100%, haja vista que predominam culturas temporárias.
O perímetro irrigado Mandacaru, implantado pela Codevasf em 1973, está localizado a cerca de dez quilômetros da sede do município de Juazeiro (BA) e atualmente é composto por área irrigada total de quase 800 hectares, sendo que 419 hectares estão distribuídos em 54 lotes para pequenos produtores e 350 hectares, para empresas. A tradição de culturas no perímetro é de manga, cebola, melão e cana de açúcar (Agrovale).
Metodologia está sendo replicada
Diante dos resultados positivos já obtidos com o projeto, a Codevasf iniciou o processo de replicação da metodologia em outros perímetros implantados pela empresa, como em Bebedouro, em Pernambuco, e em Curaçá, Tourão e Maniçoba, na Bahia – com a elaboração de projetos executivos, além do estudo do perímetro como um todo. “Os projetos que estão sendo concebidos agora podem economizar ainda mais água, uma vez que está sendo utilizada uma nova metodologia para testar o tempo necessário de irrigação por gotejamento, contemplando a formação do bulbo molhado (área que deve permanecer irrigada ao redor das raízes) para cada tipo de solo”, afirma Calazans.
“Os projetos em andamento estão em um excelente grau de qualidade e detalhamento, inclusive dos reservatórios escavados, porém o sucesso da conversão está diretamente relacionado ao acompanhamento exclusivo das equipes de Assistência Ténica e Extensão Rural (ATER) por pelo menos três anos, sob o risco de se perder todo o esforço empregado”, explica o engenheiro agrônomo Rodrigo Vieira.
Segundo ele, a finalidade do trabalho é entregar um projeto para cada produtor com desenhos e especificações técnicas e orçamentárias para seu lote, acompanhados da devida ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), conferida pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Assim, cada produtor vai receber sua pasta individual da conversão do sistema que ele pode implantar por conta própria (financiados ou não) ou comprar os equipamentos via cooperativas. “No fundo, a replicação é o maior legado da metodologia Mandacaru”, afirma Vieira.
Na avaliação do engenheiro, é preciso pensar além da conversão, ou seja, no modelo dos novos perímetros. “A minha sugestão é que temos que mudar um pouco o enfoque do perímetro irrigado. Nos próximos projetos a serem implantados, sugere-se: plantas com menores dimensões (3 a 5 mil ha), dispersos por mais localidades; utilização de bombasstandard, e não sob medida, barateando e facilitando a manutenção e emancipação dos perímetros; bombeamento individualizado forçando o produtor a economizar água e melhorando a sua gestão; eliminar canais em detrimento de adutoras (manutenção mais fácil e barata); eliminação de casas de bomba nas estações de bombeamento principais e secundárias, mantendo apenas pontes rolantes e cerca de proteção”, explica.
Para Vieira, outro aspecto que precisa ser repensado é quanto à limitação do volume para cada irrigante. “Temos que começar a trabalhar com lâminas reduzidas. Mesmo em projetos situados à margem do rio, temos que limitar o volume anual de cada proprietário, predefinindo quanto cada produtor tem direito para que ele faça o melhor uso possível da sua água. Isso vai implicar em produzir a mesma quantidade ou mais com menos água. Além disso, o seu preço está muito barato, tem que ser revisto, dentro do que a legislação atual permite”, conclui.
Histórico de premiações
Com a mudança no sistema de irrigação realizada no perímetro Mandacaru, a Codevasf já foi premiada anteriormente. No ano passado, a empresa foi uma das finalistas ao Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2013, na categoria “Gestores Públicos”. Em 2009, foi concedido à Companhia o prêmio ECO (promoção da Amcham e do Jornal Valor Econômico), na categoria Sustentabilidade em Novos Projetos, atribuído pela primeira vez ao Nordeste. Em 2011, o projeto foi apresentado no Fórum de Sustentabilidade Empresarial da Rio+20, realizada no Rio de Janeiro. No mesmo ano, a empresa recebeu o Selo Diamante pela organização não-governamental Ecolmeia, de São Paulo, por essa iniciativa.
Sobre o Prêmio ANA
O objetivo do prêmio é reconhecer o mérito de iniciativas do governo, de empresas, de organizações não-governamentais, de organismos de bacia, de ensino, de pesquisa e inovação tecnológica e da imprensa que se destaquem pela excelência de sua contribuição para a gestão e o uso sustentável dos recursos hídricos do País, promovendo o combate à poluição e ao desperdício e apontando caminhos para assegurar água de boa qualidade e em quantidade suficiente para o desenvolvimento e a qualidade de vida das atuais e futuras gerações.
A cerimônia de premiação será no próximo dia 3 de dezembro, em Brasília (DF). Os vencedores receberão o Troféu Prêmio ANA, concebido pelo mestre vidreiro italiano Mario Seguso exclusivamente para o evento. Durante o evento, os vencedores apresentarão seus trabalhos no Pavilhão Brasil, estande do País no Fórum.
Para mais informações sobre o Prêmio ANA 2014, acesse: http://premio.ana.gov.br/Edicao/2014/default.aspx.
Fonte: CODEVASF
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