A estiagem no Ceará, que se arrasta pelo terceiro ano seguido, traz uma nova preocupação – já sinalizada há alguns meses –, com relação à produção irrigada no Estado. Com a redução dos reservatórios, a tendência é que as estimativas da produção caiam ainda mais até o final do ano. O oitavo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), realizado no período de 16 de julho a 15 de agosto deste ano, mostra que, dos 50 produtos pesquisados, em relação ao mês anterior, 31 apresentam alterações na expectativa da estimativa da produção para 2014, comparando-se com a produção obtida em 2013 – sendo quatro positivas e 27 negativas.
Os produtos que apresentam crescimento da estimativa de produção de 2014 são: arroz irrigado, batata doce, banana de sequeiro e goiaba irrigada. Por outro lado, os produtos que apresentam redução na expectativa da produção de 2014 são: algodão herbáceo de sequeiro, amendoim, arroz de sequeiro, fava, feijão de arranca de 1a safra (Phaseollus), feijão de corda de 1a safra (Vigna), feijão de corda de 2a safra (Vigna), fumo, milho (grão), milho (espiga), tomate, melancia, cana-de-açúcar (sequeiro), mamona, mandioca de sequeiro, acerola, ata (pinha), café em grão (arábica), café em grão (conilon), castanha de caju (gigante), castanha de caju (anão), coco-da-baía (seco), coco-da-baía (água), laranja, manga de sequeiro e mamão.
Segundo o Levantamento, divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no Ceará (IBGE), através do Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Ceará (GCEA-CE), cresce a problemática relativa à agricultura irrigada, pois no Ceará, até o dia 25 de agosto, os 149 açudes – que podem armazenar 18,82 bilhões de metros cúbicos (m3) –, possuíam apenas 28,41% da capacidade, correspondendo a 5,34 bilhões de m3 de água. Das oito regiões, a situação mais crítica é a dos Sertões de Crateús, que possui dez açudes e encontra-se com apenas 2,17% da sua capacidade total.
DESTAQUES
No grupo de cereais leguminosas e oleaginosas, observa-se que dez produtos apresentaram alterações, em relação a julho, sendo uma positiva (arroz irrigado), enquanto os outros nove descresceram. São eles: algodão herbáceo de sequeiro, amendoim, arroz de sequeiro, fava, feijão de arranca de 1a safra, feijão de corda de 1a safra, feijão de corda de 2a safra, milho (grão) e mamona. Com isso, no cômputo geral, a nova produção estimada de grãos é de 706.111 toneladas em 2014, representando uma redução de 5,56%, comparando-se à estimativa anterior (747.675 t), e de 33,95% com relação à estimativa inicial do ano (1.069.109 t). Contudo, até agosto, inicialmente, a safra apresenta-se maior em 190,02% que a safra de 2013, apesar das perdas.
Quanto a frutas frescas, composto de 19 produtos, oito sofreram alterações, sendo duas positivas e seis negativas. Das reduções, a melancia teve, como reflexo da escassez de água, ausência de plantio no município de Iguatu. Por motivo semelhante, a laranja sofreu redução de área em Massapê e de rendimento em Granja. A produção esperada para o grupo é de 1.400.703 t, crescendo 1,68% diante da estimativa inicial (1.377.531 t), e 27,86% em relação a 2013 (1.095.518 t), mas apresentando uma redução de 0,24% em relação ao mês anterior (1.404.033 t).
No grupo composto por frutos secos, a ausência de chuvas afetou a produção da castanha-de-caju (anão e gigante). No cômputo geral, nos 174 municípios onde o fruto é cultivado, a castanha-de-caju (total) tem sua produção estimada em 161.310 toneladas, sendo 0,42% menor que a previsão de julho (161.810 t) e 0,95% menor sobre a inicial de 162.670 t. Comparando-se à safra 2013 (52.973 t), que apresentou perdas, a estimativa da produção total esperada acena com um incremento de 204,17% este ano. O coco-da-baía (total) decresce a expectativa de colheita, em 3,96%, para 348.201 mil frutos, representando, no entanto, crescimento de 68,97%, em relação à safra 2013, e de 21,89%, comparando-se à primeira projeção (295.284 mil frutos).
Entre outros destaques da redução de safra está o milho (espiga), que decresceu em municípios da microrregião da Ibiapaba - devido à redução de área provocada pela escassez de água para irrigação. A cana-de-açúcar (sequeiro) também recua, em relação ao mês anterior, passando para a expectativa de serem colhidas 1.193.558 toneladas (baixa de 5,52%). Por fim, o café arábica decresceu 14,54% em relação ao mês anterior (2.826 t) - embora ainda apresente alta de 270,97%, em relação à safra passada -, enquanto que o café conilon decresceu 51,11% em relação ao mês anterior (180 t). A perspectiva é que sejam colhidas 88 toneladas, representando crescimento de 95,56%, em relação a 2013.
Queda na produção deve intensificar alta nos preços
Ao analisar os dados constantes no levantamento, a secretária do GCEA-CE, Regina Lúcia Feitosa Dias, destaca que com o baixo nível dos reservatórios, a situação da produção irrigada já é preocupante. “Isso porque, pela primeira vez, as estatísticas agropecuárias vão informar um decréscimo na produção de frutas frescas no Ceará. Desse grupo, apesar de uma grande parte da produção ser de sequeiro, outra é oriunda da produção irrigada, e possui um valor bruto desta produção. Isso terá impacto na economia também”, observou.
Além disso, ela alerta que, para os próximos meses, as expectativas não são animadoras. Esses dados da produção irrigada deverão decrescer mais até dezembro, uma vez que as equipes estão em campo, fazendo um levantamento criterioso de quanto será essa redução. “Então, esses dados de agosto ainda não contém toda a redução que ocorrerá em 2014. Vários produtos irrigados diminuirão suas áreas (de cultivo). Como a água está escassa, o rendimento – ou seja, a quantidade de quilos por hectare –, deverá decrescer, se não tiver água suficiente para suprir as necessidades da planta e, com isso, a produção também cai”.
Conforme a Regina, essa foi a primeira vez que houve queda na produção irrigada por conta da estiagem. “Já são três anos de seca e, a cada ano piora a carga hídrica de nossos açudes. Isso está impactando a produção irrigada no Estado do Ceará”, ressaltou. Por fim, ela acrescenta que, como o mercado interno não está sendo abastecido suficientemente com a produção própria, a demanda deverá ser suprida com a entrada da produção de outros estados, implicando, consequentemente, na alta dos preços.
Fonte: O Estado
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