Através da irrigação, os agricultores produzem frutas o ano todo. Região é considerada um oásis.
Mesmo com a seca, a produção de frutas no oeste da Bahia está farta. Através da irrigação, com as águas do Rio Grande, as pequenas propriedades conseguem colher mamão, banana e cacau. Enquanto a seca aperta em muitas partes do Nordeste, esse lugar pode ser considerado um oásis.
As águas do Rio Grande cortam o oeste da Bahia por 580 quilômetros até desembocar no Rio São Francisco. No município de Barreiras é essa fartura que possibilita a produção de frutas nas pequenas propriedades localizadas na sua margem direita.
O perímetro irrigado Barreiras Norte fica em uma área de 2,8 mil hectares por onde passam os encanamentos da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). A infraestrutura leva água para 150 lotes, que variam de sete a 50 hectares.
“O produtor não tem que se preocupar com infraestrutura do rio até a sua propriedade. Sua única preocupação é dentro da propriedade. Se não fosse essa irrigação, existiriam pequenas lavouras de subsistência que contariam com a chuva. De forma alguma seria possível produzir fruta num regime de sequeiro sem a utilização da tecnologia da irrigação”, explica Antônio José do Carmo, chefe da Codevasf Barreiras-BA.
A propriedade do agricultor Orly Nink tem 24 hectares, sete deles ocupados com a produção de bananas. Logo na entrada, uma das primeiras coisas que se vê é o registro de água da Codevasf. “A água vem praticamente na porta, com pressão que não precisa de bombeamento. Vem com pressão de quatro quilos para irrigar um setor mais ou menos de dois hectares”, relata.
O trabalho de Orly no Barreiras Norte começou a apenas dois anos, depois que ele se aposentou na cidade. Entre canos, aspersores e outros apetrechos da irrigação, os gastos ficaram em torno de R$ 5 mil por hectare. Por semana, ele colhe cerca de 300 caixas de banana e toda produção é vendida no comércio local de Barreiras. “A banana é um bom mercado, que tem cliente e toda semana você tem entrada de recurso. Eu irrigo duas horas de manhã e duas horas à tarde. Cada aspersor joga 70 litros de água por hora. A conta de água fica em torno de R$ 1 mil para sete hectares”, afirma Orly.
A banana é o principal produto do perímetro irrigado Barreiras Norte. Pelo cálculo do presidente da Associação dos Produtores de Barreiras Norte (Aproban), Wilson Aguiar, a área plantada soma 300 hectares, de onde saem de 15 mil a 18 mil toneladas por ano. “É uma região privilegiada. Geralmente, o pessoal cuida bem porque as tarifas são altas da água. Quem irriga cuida para não ficar desperdiçando, vazando água na irrigação. Tem água a vontade, a gente irriga o que for necessário para o projeto e não falta água”, comemora.
Foi atraído pela fatura de água que o agricultor Elcio de Oliveira trocou sua produção de mamão em terras capixabas para apostar em um pedaço da Bahia. Ele levou a experiência na bagagem do trabalho que já fazia nos dez hectares que tinha por lá. Com a venda da propriedade no Espírito Santo, conseguiu comprar 80 hectares na Bahia. “A diferença é o clima. Aqui a gente tem um clima definido e, por isso, a gente acaba tendo maior produção e menos problemas com doença e fungos. Lá no Espírito Santo a gente encontra muitos problemas com isso. No Espírito Santo, eu produzia 70 toneladas por hectare. Aqui chega a 120 toneladas por hectare”, conta o agricultor.
Para dar conta da produção, Elcio tem hoje oito funcionários: “Todos os dias tem caminhão que chega e que sai carregado com mamão. Nossos principais mercados consumidores são Brasília, Goiânia, Curitiba, São Paulo e Campinas”.
Antônio Veloso é outro produtor que saiu da sua terra natal atraído pela fartura de água do oeste da Bahia. Ele rodou 900 quilômetros no estado, de Ilhéus até Barreiras, para cultivar o que já era tradição na propriedade da sua família. “Meu bisavô, meu avô, meu pai, meus irmãos, todos trabalham com cacau no sul da Bahia. A topografia, que no sul é terrível, você tem que trabalhar com burros no meio de pedras para transportar. É muito acidentado e aqui nós temos tudo plano, o solo é profundo, o clima super propício. A água é fundamental para o cacaueiro. Aqui, com irrigação, nós podemos manejar, dar o alimento na dose certa, na hora certa. Lá não, é difícil a adubação feita a lanço, no chão, muito dispendiosa”, diz o produtor.
O agricultor faz uso da fertirrigação, técnica que distribui o adubo através da água. Ele cuida bem da lavoura, mas também está cuidando da comercialização. Se engana quem pensa que o cacau é o produto que Antônio coloca no mercado. Toda produção está sendo transformada em chocolate dentro de sua propriedade mesmo.
Um hectare de cacau garante a fabricação de cerca de seis quilos de chocolate por semana. A filha de Antonio, Ana Paula Veloso Schneider, e sua mãe, vêm testando receitas de chocolate desde 2007 e só há um ano encontraram a fórmula certa: “Nós estamos bem confiantes. É um chocolate intenso, concentrado. É um chocolate puro, que lembra o meio amargo. Não dá para esquecer que só tem chocolate por conta da água também, porque sem água não tem essa vida”.
Mesmo em época de seca, o perímetro irrigado Barreiras Norte consome, no máximo, 4% do volume de água do Rio Grande.
Fonte: Globo Rural
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