Apesar do custo médio de R$ 7 mil por hectare, produtores asseguram que o investimento compensa.
Quando ouviam notícias de que os Estados Unidos colhiam mais de 200 sacas de milho por hectare, há uma década, os irmãos Roberto e Fernando Rigon imaginavam que não viveriam tempo suficiente para conseguir o mesmo feito no Brasil. Na época, as lavouras do noroeste do Rio Grande do Sul rendiam no máximo 70 sacas por hectare, em áreas de sequeiro (sem irrigação).
Hoje, com quatro colheitadeiras rodando 12 horas por dia, a família Rigon não se contenta em colher 200 sacas por hectare nas áreas irrigadas — onde a média chega a 270 sacas por hectare — volume três vezes maior do que a média estadual.
— Olha o tamanho dessa espiga, toda preenchida com grãos, sem falhas — diz Roberto, 44 anos, enquanto mostra o resultado da safra que começou a ser colhida em Palmeira das Missões na última semana do mês de janeiro.
Com uma área de milho 10% maior do que no ano passado, os irmãos começam a calcular o retorno das 350 mil sacas de milho que serão colhidas em 1,9 mil hectares cultivados em nove municípios do Noroeste. Neste mês, considerado o auge da colheita, diariamente cerca de 30 caminhões saem carregados das propriedades dos Rigon. O destino de 40% é o porto de Rio Grande. O restante é vendido no mercado interno, para a alimentação de animais ou indústria de rações.
Nas lavouras, 50% das quais irrigadas por pivôs centrais, os produtores conseguem rentabilidade suficiente para investir em tecnologia e qualificar a produção. No último ano, foram aplicados mais de R$ 7 milhões em máquinas, equipamentos de irrigação e armazéns para estocar a safra de verão — que inclui outros 4 mil hectares de soja. O ganho maior é explicado pela resposta imediata do milho aos investimentos em tecnologia. O cultivo do milho com adoção de alta tecnologia tem receita líquida 54% maior do que com o baixo uso, enquanto na soja a diferença é de apenas 20%, conforme estudo da consultoria Céleres
— Embora o custo das lavouras seja maior, na alta produtividade o milho é melhor negócio — afirma Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres.
Além da irrigação, que faz o resultado aumentar em até cem sacas por hectare, a tecnologia é impulsionada pela agricultura de precisão, sementes de alto potencial, fertilizantes e controle de doenças e de diferentes pragas que atacam as lavouras. O custo médio para irrigar um hectare fica em torno de R$ 7 mil de acordo com a Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Com planos de aumentar a área de milho em mais 10% na próxima safra, os irmãos Rigon pretendem continuar apostando na irrigação como trunfo para manter o grão como um bom negócio. Para este ano, aguardam liberação ambiental para implantar o sistema em mais 180 hectares com pivô central e 55 hectares com gotejamento, que direciona água diretamente para a raiz da planta.
— É um investimento que em cinco anos se paga, sem contar que nos dá segurança para trabalhar (com as adversidades climáticas) — completa Roberto, que após colher o milho usa parte da área para o plantio da safrinha de feijão.
Carência de energia e licenciamento demorado
Existem no Estado cerca de 100 mil hectares plantados com milho irrigados, o que equivale a cerca de 10% das lavouras. Depois do arroz, é a cultura com maior percentual de área coberta pela tecnologia hídrica no Rio Grande do Sul. O avanço só não é maior em razão de dois obstáculos, de acordo com o setor: capacidade de abastecimento de energia elétrica nas áreas rurais e processo lento de licenciamentos ambientais.
— Conseguimos dar um salto nos últimos dois anos, mas poderíamos evoluir muito mais se tivéssemos infraestrutura energética para isso — assegura João Telles, presidente da Comissão de Irrigantes da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Outro impasse que afeta produtores está vinculado ao programa Mais Água Mais Renda, que pode ter novas mudanças na licença de operação, já que a atual, emitida pela Fepam, causou polêmica. Conforme Telles, o aumento de 40% no custo da lavoura para instalar sistemas de irrigação pode levar à produtividade 100% maior.
— Há lavouras irrigadas que chegam a colher 300 sacas por hectare. O ganho é muito expressivo — completa.
Grão estratégico para aves e suínos
Alimento básico para a criação de aves e suínos, e considerado o motor das propriedades familiares, o milho produzido no Rio Grande do Sul historicamente não é suficiente para abastecer o mercado interno. Com demanda estimada em quase 6 milhões de toneladas, o Estado precisará trazer neste ano pelo menos 1,5 milhão de toneladas de outros Estados.
— A produção de milho do Rio Grande do Sul não conseguiu acompanhar a evolução da proteína animal — lamenta Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips).
Juntas, as indústrias de aves e suínos instaladas no Estado consomem 4,6 milhões de toneladas de milho — quase a totalidade da safra gaúcha, estimada em pouco mais de 5 milhões de toneladas. O grão compõe 65% da alimentação desses animais, complementada por farelo de soja e outros nutrientes. O déficit é agravado pela parcela de milho destinada à produção de ração e de sementes e ainda para consumo humano. Além disso, cerca de 300 mil toneladas deverão ser exportadas.
Os custos logísticos para trazer milho do Centro-Oeste, onde há excedente do grão, colocam em risco projetos de ampliação previstos por indústrias de aves e suínos instaladas no Rio Grande do Sul.
— A situação é delicada. A carência por aqui e o excedente no Centro- Oeste colocam em risco investimentos da indústria instaladas no Rio Grande do Sul — alerta Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Para Turra, é preciso fazer com que políticas governamentais incentivem produtores gaúchos a investir na cultura do milho, criando mecanismos para regular o mercado.
Fonte: Zero Hora (http://twixar.me/vv3)
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