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África ainda está em busca de sua revolução verde

Há 50 anos, o desenvolvimento de sementes de cereais mais produtivas e a expansão excepcional da irrigação e do uso de fertilizantes e agrotóxicos levaram a um salto tão grande na produtividade agrícola no México e Índia, entre outros países, que William Gaud, responsável por políticas assistenciais internacionais dos Estados Unidos, vaticinou que o mundo testemunhava "o desenvolvimento de uma nova revolução".
"Não é uma revolução vermelha violenta, como a dos soviéticos, nem uma revolução branca como a do xá do Irã", disse Gaud, em discurso em 1968. "Eu a chamo de revolução verde", cunhando um termo que passou a ser de uso comum.
A África, no entanto, não fez parte da revolução verde. Ainda não faz. A União Africana chamou 2014 de o "Ano da Agricultura e Segurança Alimentar", na esperança de desencadear uma segunda revolução verde no continente. Muitos especialistas, contudo, não são tão otimistas. Promessas similares no passado não deram resultados.
Meio século depois de a produtividade agrícola ter decolado na Ásia, Leste Europeu e América Latina, com o rendimento dos cereais passando de 1 tonelada por hectare em 1960 para mais de 3 toneladas em 2013, a África ainda não viu grandes avanços na produção. A produtividade dos cereais nos países subsaarianos aumentou de 0,8 tonelada para apenas 1,3 tonelada por hectare. Isso mantém muitos africanos na pobreza, já que a maioria da população depende da agricultura como meio de vida.
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, a produtividade agrícola africana não manteve o ritmo do crescimento da população. Os aumentos verificados refletiram mais a expansão da área cultivada do que uma melhora no rendimento. Como resultado, a produção de alimentos per capita no continente caiu, obrigando países africanos a recorrer a importações e a gastar bilhões de divisas a cada ano para comprar commodities como trigo, açúcar e arroz das firmas comercializadoras internacionais.
A dependência excessiva dos africanos em relação aos alimentos importados deixou muitos países contra a parede, quando os preços no atacado subiram. A crise alimentar de 2007 e 2008 - a primeira em 30 anos -, com preços recorde em produtos como o arroz e o trigo, desencadeou manifestações em vários países, incluindo a Nigéria e o Senegal.
A crise de 2007 e 2008, entretanto, teve um efeito positivo: recolocou a agricultura na agenda africana - e internacional. Alguns países na região juntaram-se em 2003 ao Programa Integrado para o Desenvolvimento da Agricultura (CAADP, na sigla em inglês), da União Africana. A iniciativa, contudo, só ganhou força recentemente. A meta do programa é reduzir a pobreza, destinando pelo menos 10% dos orçamentos dos governos nacionais à agricultura.
Países como Ruanda, Etiópia e Gana vêm mostrando fortes avanços na agricultura. Outros, como a Nigéria, no entanto, ainda tentam equiparar-se.
"A Nigéria foi autossuficiente em alimentos nos anos 60 e é conhecida por sua posição mundial em importantes commodities agrícolas", disse o ministro da agricultura da Nigéria, Akinwumi Adesina, que estudou nos Estados Unidos, em audiência recente em Nova York.

Algo mudou, no entanto.

"Encontramos petróleo e ficamos muito dependentes dele. A Nigéria em breve [vai se tornar importadora líquida de alimentos, gastando] em média US$ 11 bilhões [por ano] apenas em trigo, arroz, açúcar e peixe."
Agricultores, agrônomos e especialistas em desenvolvimento dizem que as novas tecnologias não vão trazer transformações radicais por si só, muito menos no curto prazo. Para conseguir avanços rápidos, o que deveria ser feito é melhorar o transporte, a armazenagem e o acesso aos mercados. Isso reduziria muito a quantidade de alimentos que se estraga a cada ano entre os campos e os mercados.
Especialistas também acreditam que a África poderia mostrar avanços rápidos se aproveitasse melhor tecnologias subutilizadas, como a irrigação e os fertilizantes químicos.


Fonte: Revista IdeaNews (http://twixar.me/0D3)

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