A irrigação mecanizada está fazendo toda a diferença no desempenho das lavouras de milho da safra 2013/2014. Foi o equipamento e a disponibilidade de água, claro, que amenizaram o impacto da curta estiagem que abateu localidades como São Luiz Gonzaga, nas Missões, no fim de ano, e onde estão os 51 hectares de milho do agricultor Abel Costa Beber. O pequeno produtor de grãos acionou o equipamento pelo menos 20 dias entre novembro e dezembro, evitando que a escassez de chuva e as altas temperaturas prejudicassem o desenvolvimento da cultura plantada mais cedo. As perdas, consideradas pela Emater-RS como certas e que serão divulgadas nesta semana, atingiram lavouras situadas principalmente nas Missões, no Planalto e no Alto Uruguai e cujos produtores não conseguiram neutralizar a insuficiência hídrica.
Beber está entre os quase 600 projetos de irrigação que foram instalados desde o fim de 2012 dentro do programa Mais Água, Mais Renda, um dos carros-chefe do governo Tarso Genro para afugentar o fantasma dos prejuízos de estiagens. A última grande, em 2012, provocou queda de 1,8% do PIB gaúcho, graças à quebra das safras de milho e soja, acossadas pela falta de chuvas. “Perdi quase tudo na temporada de verão de 2011/2012, quando colhi 20 sacos por hectare. Agora, com água no momento que não podia faltar, além de boa adubação, serão 180 sacos por hectare”, contrasta o agricultor, que já adquiriu um segundo conjunto de pivôs para reforçar a artilharia e este mês plantará soja. “Vai ter mais sol e menos chuva até fevereiro, mas nem vou esquentar a cabeça.”
A Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) registrou a adesão de 2,3 mil projetos até dezembro de 2013 no Mais Água, entre agricultores familiares, pequenos e médios, com investimento de R$ 280 milhões. Além dos 600 em operação, mais 400 estão sendo instalados, segundo a Seapa. Os projetos somam área potencial total a irrigar de 45 mil hectares, com maior parte de grãos (milho), pastagens e variedades frutíferas. Até agora, pelo menos 25 mil hectares estão com pivôs e demais sistemas instalados. A área eleva para cerca de 130 mil hectares irrigados nas culturas de verão, além do arroz, cultivado em 1 milhão de hectares alagados e que lidera a produção nacional. A meta do governo é alcançar cem mil hectares a mais até o fim do ano.
O funcionamento de apenas 26% dos equipamentos até agora se deve à demora na entrega dos sistemas pela indústria, ante o grande volume de encomendas, e a restrições de rede de energia, informa o engenheiro agrícola da empresa de extensão Rogério Mazzardo, que atua no Núcleo de Manejo de Recursos Naturais da Emater-RS e monitora projetos em pequenas propriedades. “A indústria não consegue dar conta dos pedidos, que antes eram entregues dentro de três a quatro meses e agora podem levar oito meses”, dimensiona Mazzardo. André Stolaruck, coordenador-técnico do Mais Água na Seapa, confirma que as aquisições feitas na Expodireto, em março, foram atendidas, e as mais recentes, da Expointer, em agosto, entraram na fila.
Só o que preocupa Beber e a vizinhança que aderiu ao sistema é o suprimento de energia elétrica. O agricultor teve de ligar os pivôs de madrugada, pois nos horários de pico de consumo a rede não suportaria a carga exigida pelos equipamentos. “Com noites quentes, os moradores da cidade usam mais luz para ar-condicionado”, atribui Beber. A solução na região será uma rede exclusiva para os “pivozeiros”, diz o produtor. Mazzardo cita que 55% dos sistemas são movidos a óleo diesel pela limitação da rede. O custo aumenta, mas a colheita maior paga a diferença. Stolaruck aponta que a restrição atinge mais o Norte. “Os agricultores estão nervosos, pois venceram o gargalo da demora de licenças e outorgas e da vontade de instalar o sistema, mas agora surge o da energia”, resume o coordenador-técnico do programa, citando que setores do governo e concessionárias estão montando plano para dar conta da infraestrutura.
O superintendente da Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural (Fecoergs), José Zordan, confirma que cooperativas de eletrificação rural estão investindo em redes para suportar os pivôs. Zordan adverte que as dificuldades expõem uma falha na meta de ampliar a área irrigada. “A contratação dos projetos é feita sem saber antes do suprimento de energia. O vendedor do equipamento não está preocupado com isso”, contrasta o superintendente da Fecoergs. O plano de investimento das cooperativas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) para 2012-2014, previsto em
R$ 180 milhões, teria superado R$ 200 milhões em 2013. Novos aportes dependerão de fôlego do sistema e da autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Fonte: Irrigação.net (http://twixar.me/tq)
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