Técnica desenvolvida pelos índios usa a água do degelo para irrigar o solo. Eles conduziam a água até as lavouras usando apenas a força da gravidade.
Mendoza é considerada uma das principais regiões produtoras de fruta da Argentina e a 5ª maior produtora de vinho do mundo. Fica no Centro-Oeste da Argentina, na fronteira com o Chile, e é cercada de pomares e vinhedos, apesar do clima semelhante ao deserto.
A Cordilheira dos Andes tem oito mil quilômetros de extensão e vai da Argentina até a Venezuela. A altitude média gira em torno dos quatro mil metros e ultrapassa os seis mil metros em alguns pontos. Mesmo no verão, os picos mais altos sempre têm gelo. No inverno, as montanhas ficam cobertas pela neve. Na primavera, conforme a temperatura vai subindo, a neve vai derretendo e vira água, que escorre montanha abaixo formando córregos e rios. Além do rio Mendoza há mais quatro rios importantes na região formados pela água do degelo: o Tunuyan, Atuel, Diamante e o Rio Grande.
O arquiteto Jorge Ponti, estudioso da história da água em Mendoza, explica que foram os índios, primeiros habitantes da região, que encontraram uma maneira simples de usar a água do degelo. “No local vivia uma tribo que se chamava Los Huarpes. Eles faziam parte do império Inca e tudo indica que os Incas, que tinham grande tradição hidráulica, tenham contribuído para criar nosso sistema de irrigação onde a água escorre naturalmente por gravidade”.
O povo Inca viveu na região da Cordilheira por, pelo menos, três séculos, formando um grande império que perdurou até os anos de 1530, e deixou um importante legado cultural e tecnológico. Quando os espanhóis chegaram na região, em 1561, já encontraram funcionando um sistema de irrigação e abastecimento de água, que era simples, mas muito funcional.
Aproveitando o caminho natural das águas, os índios construíam pequenas acequias, que são canais escavados na terra. Eles conduziam a água do rio até as casas e lavouras usando apenas a força da gravidade. Muitas acequias existem até hoje.
Atualmente cada um dos principais rios de Mendoza, tem seu próprio sistema para armazenar e distribuir água. Eles formam grandes represas, ou como se diz em espanhol, embalses.
O engenheiro agrônomo José Morábito, responsável pelo programa de irrigação do Instituto Nacional de Água de Mendoza, explica o funcionamento dos embalses. “Nós temos seis grandes embalses. O Potrerillos, feito sobre o rio Mendoza, é um dos maiores. Tem capacidade para armazenar 450 milhões de metros cúbicos de água. O que representa mais ou menos 1/3 do volume de água que escorre pelo rio em um ano”.
O Potrerillos fica a dois mil metros de altitude no meio da Cordilheira. A água desce por gravidade até um dique, onde é dividida em diversos canais. O mesmo sistema está instalado nos seis embalses de Mendoza. Juntos, eles alimentam uma rede com 12 mil quilômetros de canais, que levam água a todos os municípios da província.
Os pomares de Mendoza estão concentrados nos chamados oásis produtivos, áreas que têm sistemas de distribuição de água do degelo. A província de Mendoza é a maior produtora de pêssegos da Argentina, especialmente das variedades destinadas à indústria. O clima frio da região favorece esse tipo de cultivo,
Mas apesar de chover pouco na região, a proximidade com os Andes e com o Sul do continente americano, torna-o um lugar sujeito a tempestades, com ventos intensos e chuva de granizo.
O agrônomo do Instituto Nacional de Água de Mendoza, Daniel Pizzolato, explica que, para reduzir os estragos causados pelo granizo, muita gente está cobrindo os pomares com uma malha própria para isso. “Esse é o único sistema que funciona na região. A malha é cara porque tem que ser muito resistente para suportar pedras grandes caindo de 10 mil metros altura sobre ela e ainda têm a estrutura para sustentar essa malha, como os postes, arames, grampo. Isso tem um custo alto”.
Cada rio da província tem um chefe de operações, que determina quanta água cada canal vai receber e os dias em que ela vai chegar. Para controlar a entrada de água, as acequias são equipadas com comportas e tem uma pessoa contratada para abrir e fechar as comportas na hora certa.
A maior parte dos agricultores de Mendoza rega o pomar usando a mesma tecnologia do tempo dos índios. A inundação é o sistema de irrigação mais tradicional da região. A água entra por um canal e depois se espalha por gravidade por todo o cultivo.
Os agricultores pagam pela água, mas, mesmo assim, só recebe água quem tem permissão para isso. O direito de água foi concedido há muito anos mediante os registros das propriedades que usavam água naquela época. Algumas fazendas perfuram poços profundos para complementar a irrigação, mas até a abertura de poços precisa de permissão do governo. No momento, ninguém está conseguindo autorização.
O agrônomo César Arland, que administra uma fazenda que cultiva pêssego, ameixa e nozes, explica que, para poder aumentar um pouco a área de cultivo, foi preciso investir em sistemas de irrigação mais modernos, como a microaspersão. “Com esse sistema, a gente consegue aproveitar cerca de 90% da água. Esse sistema custa entre US$ 2 mil e US$ 3,5 mil por hectare. Dependendo da sua necessidade”.
Mesmo com algumas dificuldades, a produção de frutas movimenta a economia da região. Boa parte delas segue para indústria para virar compota. A produção de frutas também gera milhares de empregos tanto na indústria quanto no campo. A água que desce dos Andes, transformou o lugar árido e pedregoso num oásis, que leva oportunidades para quem vive na região.
Fonte: G1.com (http://twixar.me/j13)
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