Por: Marcelo Borges Lopes é vice-presidente da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação da Abimaq e presidente da empresa Valmont.
A seca que castigou algumas regiões do Brasil mais uma vez trouxe à tona a necessidade de aumentar a área irrigada no País, como forma de reduzir o risco climático. No Rio Grande do Sul, o Estado mais afetado pela estiagem, o governo passou a receber propostas para implementar ações de incentivo à expansão da irrigação. No Centro-Sul do País, a seca que atingiu os produtores de canade- açúcar no ano passado fez com que o tema irrigação ganhasse projeção no setor. Diversos grupos de produtores foram visitar usinas do Nordeste – tradicionais produtoras de cana irrigada –, para ver o que está sendo feito naquela região para amenizar os impactos da seca.
“É preciso vencer três gargalos: o licenciamento ambiental, a disponibilidade de energia elétrica e o acesso ao crédito”.
Nos últimos meses, chama a atenção o imediatismo com que o tema irrigação tem sido tratado. É preciso entender que irrigação não é remédio para ser lembrado apenas no momento de crise. Projetos de irrigação têm um tempo longo de maturação, às vezes superior a um ano. O agricultor que vê sua safra se perder pela falta de chuva neste ano e decide implantar um sistema de irrigação pode, na melhor das hipóteses, garantir a safra do próximo ano.
Atualmente, existem três gargalos para a expansão da agricultura irrigada: o licenciamento ambiental, a disponibilidade de energia elétrica e o acesso ao crédito. Na questão ambiental, a votação do Código Florestal deverá ajudar bastante. No entanto, é preciso trabalhar também a simplificação dos processos de obtenção da outorga de direito do uso dos recursos hídricos. Outro ponto fundamental é a autorização para construir barragens destinadas a armazenar a água da chuva. Em geral, as regiões atingidas pela seca têm um bom volume de chuvas, porém mal distribuídas durante o ano.
Água no campo: o País tem pouco menos de cinco milhões de hectares irrigados, mas há potencial para irrigar 30 milhões. Quanto à energia elétrica, existem duas situações que restringem a adoção da irrigação nas lavouras: falta de disponibilidade de carga e de rede de distribuição. Os programas de eletrificação rural, implementados recentemente pelo governo federal, foram importantes para melhorar a vida no campo, mas a irrigação – assim como a armazenagem de grãos – necessita de redes trifásicas, de maior capacidade de carga elétrica. As normas atuais exigem que o produtor rural participe do investimento nesse tipo de eletrificação, e isso encarece os projetos de irrigação, chegando muitas vezes a inviabilizá-los.
No crédito, a questão central é o acesso às linhas de financiamento. Hoje, existem linhas de crédito específicas para a irrigação, com custos e prazos compatíveis com a atividade, porém elas não chegam ao produtor, principalmente para aqueles que constituem a classe média rural.
Vencidos esses obstáculos – ambiental, energia elétrica e crédito –, ainda há pela frente a escassez de técnicos para projetar os sistemas de irrigação. A formação de mão de obra qualificada não acompanhou o crescimento vertiginoso do campo. Assim, será preciso atrair os jovens, treiná-los e, ao mesmo tempo, atualizar e capacitar os profissionais de assistência técnica que hoje estão no campo.
Os desafios são gigantescos. Hoje, a área irrigada no País é de pouco menos de cinco milhões de hectares, mas há potencial para multiplicá-la por seis e irrigar quase 30 milhões de hectares, respeitando os recursos hídricos e contribuindo para a preservação dos biomas ao intensificar o uso da terra. Cada hectare irrigado produz três vezes mais que um hectare de sequeiro, sem o risco da seca. É preciso determinação para usar esse recurso. Fácil não é, pois se fosse fácil já estaria feito. Mas é preciso pesar o custo da tomada de decisão pela irrigação contra o custo da perda repetida de safras agrícolas.
Fonte: Irrigação.net (http://twixar.me/HC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário